O Espiritismo segundo Jesus Cristo



Acredito que o livro de Israel Belo de Azevedo seja a obra cristã mais completa que já li sobre Espiritismo. O livreto, publicado pela Vida Nova, só tem de pequeno o tamanho porque o conteúdo é bem interessante. Não é uma obra detalhista no sentido teológico, mas um livro apologético que traz interpretações cristãs a fenômenos bíblicos utilizados pela doutrina Espírita de maneira distorcida.

No início da obra “O Espiritismo segundo Jesus Cristo”, o autor leva ao debate a questão de que muitos espíritas se considerarem cristãos sem de fato saberem o que é ser cristão. Ele discorre sobre o conceito de ser cristão baseado em pontos de vista bíblicos e não somente na moral cristã. Para se ter dimensão dessa confusão doutrinária, Israel Azevedo fez a comparação de certas crenças espíritas com o que a Bíblia diz.

Ele começa expondo que para o Espiritismo, a ideia de pecado não existe. No entanto, Jesus Cristo tira o pecado do mundo (João 1.29) e oferece perdão. Tudo dentro do cristianismo é alicerçado no poder de Cristo para perdoar e no arrependimento de pecados dos filhos de Deus. O Espiritismo também não aceita a doutrina da salvação, sendo Cristo o nosso Salvador. Para aquela religião, nossa salvação vem de sucessivas reencarnações. Para os adeptos dessa doutrina, Jesus foi o maior dos médiuns, pode agir como mediador, mas não é redentor. Os espíritas também não aceitam que Cristo é o próprio Deus, imagem do Deus invisível e criador de todas as coisas (Colossenses 1.15-20).

O autor da obra, jornalista pós-graduado em teologia e em história e doutor em Filosofia, depois de desmistificar a ideia que um espírita pode ser considerado cristão, ele vai expondo pontos-chave da doutrina espírita à luz da Bíblia. Usando sempre os escritos de Allan Kardec e de pensadores espíritas, Israel Azevedo realiza o comparativo entre o que eles pensam e o que a Bíblia diz e mostra o erro de interpretação bíblica dos defensores do Espiritismo.

Para Allan Kardec, a passagem bíblica que fala do novo nascimento (João 3) quer dizer que Cristo estava ali defendendo a reencarnação. No entanto, interpretando literalmente ou metaforicamente fica claro que a passagem afirma sobre a necessidade de nascimento espiritual e não biológico. Espíritas acreditam também que João Batista seria a reencarnação de Elias, mas ele disse taxativamente que não era Elias (João 1.21), ele era apenas um profeta no mesmo estilo que Elias (de vida, como sobrevivia, o que comia, vivia à margem da sociedade, etc).

Quando os discípulos perguntaram a Jesus a causa da doença do cego, Jesus foi bem claro rechaçando ideias de carma e reencarnação. Além disso, os judeus acreditavam em algo como maldição hereditária e não em reencarnação (João 9.1-3). “Para aceitar a doutrina da reencarnação, é preciso, então, aceitar o conceito kardecista de carma e negar o conceito bíblico do valor expiatório da morte de Jesus” (p. 50); ou seja, ou você é cristão ou você é espírita, impossível acreditar nas duas doutrinas ao mesmo tempo. “A cruz torna a reencarnação completamente desnecessária. O homem não precisa pagar pelos seus pecados. Jesus já fez este pagamento na cruz” (p.51). “A reencarnação anula o sacrifício de Jesus na cruz” (p. 51).

A mediunidade, que é a comunicação entre dois mundos, é uma das premissas do Espiritismo. Essa crença também é discutida pelo autor do livro que questiona más interpretações de algumas passagens bíblicas por parte dos espíritas. Onze passagens do Antigo Testamento condenam a consulta aos mortos e, mais que isso, aqueles que assim o fazia eram condenados à morte (Levítico 20.6; 20.27). Saul consultou necromante (I Samuel 28) e por isso foi morto por Deus (I Crônicas 18.13-14).

No Espiritismo, a função de um médium é agir como intermediário para aquele que deseja ouça algo do mundo dos mortos através dele. No entanto, não foi o que aconteceu na passagem da transfiguração de Jesus, quando Elias e Moisés apareceram. Primeiro, eles não foram invocados; segundo, eles não conversaram com os discípulos, nem sobre os discípulos; terceiro, a visão era um dos métodos utilizados por Deus para se comunicar com os homens que carecem muitas vezes de provas materiais e, ainda assim, aqueles discípulos, naquele momento, não entenderam a visão. Por fim, o autor fala da encarnação de Cristo e mostra que ele não foi fruto de reencarnação de ninguém.

O autor da obra foi muito atento aos detalhes que envolvem a interpretação de trechos bíblicos. O livro é bastante recomendável por ser acessível a todos os leitores, ter linguagem simples e ser bastante direto ao ponto. Importante para quem quer entender mais as diferenças entre ser cristão e ser espírita e o porquê de analisar cada passagem bíblica dentro de seu contexto maior: a Bíblia como um todo.

Ficha técnica
Obra: O Espiritismo segundo Jesus Cristo
Autor: Israel Belo de Azevedo
Editora: Vida Nova
Páginas: 144
Ano: 2010
Preço da editora: R$ 26,90

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